Voltando à mesma história, adoro acordar de manhã, com o primeiro despertador, e voltar a adormecer.
Esse espaço de tempo, entre um acordar e o outro, é o mais produtivo de todos. Nesses parcos minutos posso ser o que quero. São esses os sonhos de que me lembro melhor.
Por não ser um sonho profundo, vejo-os como se os estivesse a viver. Alguns (por sinal bastantes), até os consigo controlar.
Já tive sonhos que duraram dias inteiros nesses quinze minutos.
Já tive sonhos em que era o delfim da Atlântida, numa cidade fantástica, com grandes edifícios envidraçados, de cúpulas douradas, a saír da água e a olhar em direcção ao céu. Debaixo do mar, grandes cúpulas de vidro protegiam torres tétricas, feitas com traços de Gaudí (devo ter lido “A Cidade Que Não Existia” de Bilal nessa noite).
Já tive também sonhos em que, no meio de uma escura viela, debaixo de um único candeeiro de rua aceso, fui atacado pelo professor de ITI do 12º ano. A turma era dividida em duas para esta cadeira, e quem me atacou foi o professor da outra metade (?)!
Já estive a bordo de uma nave, minúscula, a voar pela minha casa, e a tentar fugir a um gato que não tenho.
Já corri, rua fora, para me aperceber que, dando passadas cada vez maiores, conseguia voar. E voei... Vi Lisboa, pelos meus olhos, sem uma janela de avião à minha frente. Corri o mundo a voar, e acordei muito bem disposto.
Acabo por aqui, apenas para explicar qua aqueles 15 minutos são do melhor qua há.
Levanto-me então, ainda a pensar no sonho; tomo banho a pensar em modos de continuar as aventuras recentemente vividas; como um pequeno almoço de rei, de vítima, ou semi-deus.
Saio à rua, para ir trabalhar, vejo a Estrada de Benfica em todo o seu esplendor, os autocarros e as mesmas caras de lutas diferentes, os mesmos rostos tristonhos que não acreditam num dia melhor, e sinto-me vazio.