terça-feira, agosto 30, 2005

Eu e a minha avó

Ora pois bem, deixo-vos apenas um exemplo:
Há um ano (podem ter sido dois), levámos a minha avó a ver a casa de fim de semana que havíamos comprado, ao pé da Lagoa de Óbidos, pertinho da Foz do Arelho.
A casa fica perto de um pombal, estando por isso o condomínio cercado pela Lagoa e pelas árvores. Um cenário idílico, mas apenas para aqueles corações de espírito inefável, que se deixam impressionar pela natureza, em detrimento da vida agitada da urbe.
Nesse dia, em relação à casa, a minha avó teve duas frases que me marcarm profundamente pela sua beleza.
A primeira:"Isto qualquer dia arde tudo."
A segunda, para minha irmã: "Esta casa é muito bonita... para ser assaltada."
Mais tarde almoçámos no terraço, e como estava sol, o meu pai abriu o guarda-o-mesmo.
Prontamente: "O do meu vizinho é igual a este. Mas maior."
Ora eu já o vi, e não só não é igual (é mais feio, mesmo), como não é maior.
Esta capacidade que a minha avó tem de deitar tudo abaixo, preferentemente o nosso, exaspera-me. A minha mãe é filha única, mas os vizinhos têm sempre qualquer coisa melhor, ela já teve melhor, e por aí fora.
Até a casa era má, estava muito isolada, até porque "a minha casa na Guiné, não. Era na rua principal." Sendo que um primo meu, sobrinho dela, disse logo: "Era na rua principal porque era a única que havia."
"Ora toma" pensei eu.
"Sim, mas era perto do hotel mais importante da Guiné."
Responde o meu primo: "Era perto porque ficava na mesma rua. Mas era na outra ponta."
"Dois - zero" pensei.
Isto é o que pode ser um dia com a minha avó.

O facto de adorar falar mal da famíla do meu pai nos entretantos é outra.
Mas isso fica para depois, se me apetecer lavar mais roupa suja em público.